segunda-feira, 10 de março de 2008

"Quando Nietsche chorou"

Como prometido, seguem algumas impressões do livro.

Primeiro, que eu adoro livros do tipo deste, que pegam personagens e situações reais e ficcionam as relações não conhecidas ou hipotéticas. E ainda, neste romance, os personagens em causa são particularmente interessantes, ao menos para mim: além de Nietsche, vemos um jovem Freud, um atormentado dr. Breuer (que postulou sobre o labirinto e o equilíbrio e deu os primeiros passos sobre a histeria) e a própria cidade de Viena em seus maus humores de inverno no fim do séc XIX.

Segundo, e especialmente perturbador, me identifiquei com o Nietsche em seus ataques de enxaqueca, claro que não fico tão debilitada (em termos de número de dias) como ele se mostrava no romance, mas para mim 2 a 3 dias daquele inferno ali tão fielmente descrito quase todos os meses já era mais do que angustiante. Também foi um alívio perceber que agora as crises estão mais controladas, menos frequentes e bem mais amenas. Fora dos dias de enxaqueca, ou do sentimento de sua chegada (isto também é verdadeiro, me senti menos paranóica), nunca me dei conta de verdade dos danos que ela sempre me causou, e ler tudo ali tão descritinho aos detalhes que me fez dar conta desta ausência mais prolongada e de como quero manter-me assim. E já que é para entrar na idéia do livro, mais um ponto foi o uso terapêutico do café nos momentos primordiais da crise, parece engraçado, mas sempre fiz isso meio intuitivamente e sentia a melhora quase imediata e ver que este era o remédio inovador da época me deu mais algum argumento... hahahaha

Me empolguei com a história da enxaqueca, mas é q estava tão bem descrita que não resisti o registro.

Mas agora sobre o romance em si: formidável e instigantemente "real". As relações dos personagens: como eles se tratam, se constroem, se transformam e se influenciam são concatenadas, congruentes; nada está ali por acaso, e assim como o médico troca de lugar com o paciente, por vezes também o leitor troca de lugar com os personagens ou ao menos se põe a refletir se não esteve em igual situação e como agiu então. Quer dizer, foi visivelmente assim comigo... talvez eu já tenha ficado pré-influenciada pela identificação da enxaqueca, ou talvez era isso mesmo que o autor esperava, de qualquer forma, gostei muito da experiência. Vemos um Nietsche perturbado, amargurado e petulante pouco antes de dar à luz (como "ele" mesmo refere) a "Assim falou Zaratustra"; e um Freud ainda em seus primeiros passos na medicina, se descobrindo, tateando os primeiros passos da investigação da psiquê. Trechos de cartas reais entre os personagens diversos, ali misturados aos elementos hipotéticos num emaranhado a não se perceber qual é qual.

Bem, terminado o livro SOBRE Nietsche, nada mais certo do que agora ler um livro DE Nietsche, e justamente "Assim falou Zaratustra" se apresentou mais acessível, de modo que já estou folheando, ou melhor "bookeando" por aqui, quando terminar volto a trazer as impressões, mas até lá fica um fica um trecho que já me saltou aos olhos e não é difícil entender o porquê:

"É preciso ter um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante!"

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