sexta-feira, 23 de maio de 2008

BrasileirAs em Portugal

Há uns dias recebi a seguinte reportagem.

Antes que pessoas daqui ou daí se melindrem a respeito sou obrigada a dizer que embora seja possível destituir esta imagem, dizer que embora não seja uma verdade absoluta e generalizada, É UMA VERDADE!!!

E não, este tratamento não está apenas direcionado a pobres coitadas que vieram tentar a vida honestamente, e sem vender o próprio corpo! Este é o tratamento dispensado ao sotaque brasileiro. Basta ser mulher, basta ser brasileira e a primeira impressão estará formada, se a pessoa a te ouvir for outra mulher então prepare-se, porque sequer disfarça o des(res)peito.

Aqui, infelizmente, a gente aprende que quando vai falar com desconhecidos a cortesia pela cortesia é uma dádiva a ser agradecida. Como disse, não é uma verdade absoluta e há sempre os que nos respeitam, mas prefiro esperar grosseria e receber respeito que o contrário. Quando se espera grosseria, a gente já aprende a responder com cerimônia para não alimentar o preconceito descabido, quando se espera educação e a grosseria aparece sem motivo o sangue pode falar mais alto, e o resultado nunca é bom.

As situações descritas na reportagem já passei por muitas, por outras foram amigas, algumas situações tão graves quanto, minhas ou delas, ficaram de fora dos exemplos da reportagem.

E o pior, infelizmente, de uma forma ou de outra, algumas de nós acaba dando razão à paranóia ciumenta de algumas mulheres. Eu, por exemplo. Vim aqui estudar, como muitas de nós, mas além de ser difícil alguém ficar sozinho por 6 meses ou 1 ano, ou mais, mesmo em seu próprio domínio, tanto pior quando a saudade bate e a carência pede passagem, longe de tudo e de todos que você conhece. É óbvio que mais cedo ou mais tarde você vai acabar gostando de alguém e se este alguém for português, teoricamente você está roubando "homem" delas. É ridículo, mas é assim que algumas pensam. Não interessa que ele é quem tenha te paquerado, antes mesmo de saber que era brasileira, ou qualquer coisa parecida. Neste quesito tenho sorte que ainda não tive problemas diretos com isto, nem com família, nem com amigas... mas em lugares públicos em que nós conversávamos já percebi comentários a partir dos sotaques diferentes, com direito a olhares acompanhados de fitas métricas. Aprendi a lidar, observo, mas já não me incomoda, tenho mais com o que me preocupar.

Mesmo porque não importa se namoremos portugueses, sempre haverá alguma mulher que jure de pés juntos que você dá em cima do marido velho, careca e barrigudo que ela tem casa (nada contra velhos, carecas e barrigudos).
Não importa se você já esteja bem "casada" e bem resolvida, vai ter sempre um velho, careca e barrigudo te oferecendo cama, comida e roupa lavada.
Já vivi as duas situações: mulher mal-amada me acusando de dar em cima do marido desocupado dela; e propostas no mínimo indecentes.

Basta você ser solícita para despertar suspeitas. Em filas, se estiver sozinha jamais tire dúvidas sem estar preparada para o que pode se seguir. A partir da hora que você abrir a boca vai ter algum comentário despeitado ou um engraçadinho. Uma vez, no aeroporto, os vôos atrasados caí na besteira de esclarecer a uma senhora que o vôo que ela aguardava estava atrasado, na mesma hora um senhor que segundos antes esclarecia o filho que o vôo da prima estava atrasado veio me perguntar sobre o dito vôo, só para puxar assunto... e não me largava mais, com uns papinhos, perguntando se eu estava de carro, que naquele dia não poderia me dar carona, mas que quando ele me daria o telefone e quando eu quisesse era só ligar para ele me levar para viajar pelo país, que tinha uma casa num sei onde para passar o fim de semana e estas putarias. Adiantou eu dizer que tinha namorado? Claro que não. Poderíamos ser "amigos" independente dele. Que eu não estava interessada? Podia mudar de idéia quando quisesse. Que meu telefone estava quebrado? Anotava o número e depois ligava para ele. Enfim...

Em outra situação, quando procurava quarto para alugar uma senhora ficou indignada que "estas brasileiras não têm respeito por ninguém!!! Sou uma senhora de família!" só porque perguntei se tinha acesso à cozinha, se as contas estavam inclusas e tinha possibilidade de colocar net. Putaria isto, não??? Onde eu tava com a cabeça??? Isto que nem falei no Ricardo!!! Hahahaha Detalhe: Hoje moro numa casa de família com todas as condições que perguntei e o Ricardo pode me visitar, incrível, não??

Pesquisando quarto ainda liguei para uma pensão que era cara e não tinha acesso à cozinha e dispensei logo, uma mulher tinha me atendido. Não muito depois um cara liga dizendo que baixava o preço, permitia acesso à cozinha e permitia eu colocar net. Neguei, pareceu-me muito fácil. O cara me ligou pelo menos mais 3 vezes, cada vez com uma "abertura" a mais. Você já viu alguém correr atrás de "cliente" assim??? Pois é, eu também não.

Bom, são apenas alguns acontecimentos para ilustrar mais a reportagem, nem tudo são flores! Há de abrir os olhos e saber o que vai enfrentar!

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Mai,
li tanto a reportagem quanto a sua postagem, é chocante e imagina o quanto vc deve estar sentido por isso; pelo jeito parece que há um propósito determinado de achincalhar os brasileiros (as. Este é o preço de quem está fora do país procurando melhorar; meu irmão também falou que passou por muitas humilhações quando esteve dois anos na Espanha, também estudando. Espero que supere tud isso e saia da lá de cabeça erguida, ou se ficar aí dê a volta por cima!